sábado, 28 de novembro de 2009

Consciência Negra



 
Agência Alagoas - AL
18/11/2009 - 22:31

Consciência Negra
Governo entrega certificado de reconhecimento a 26 comunidades quilombolas
Remanescentes de quilombos comemoram a conquista de nova fase após receber o certificado da Fundação Cultural Palmares; documento permite acesso a políticas públicas específicas
Nicolas Braga
Tércio Cappello

Zulu Araújo, da Fundação Palmares, lembrou a história de resistência da população negra em Alagoas
No dicionário, a palavra reconhecimento significa ato ou efeito de reconhecer(-se); recognição. Mas, para o remanescente quilombola Manoel Oliveira, da comunidade Mumbaça, reconhecimento também quer dizer reconquista da dignidade e o início de uma nova fase, com mais respeito e atenção do poder público. Compartilhando dessa mesma opinião, representantes de 26 comunidades quilombolas receberam na tarde desta quarta-feira (18) os certificados de reconhecimento de comunidade quilombola.

Primeiro a se pronunciar, Manoel Oliveira destacou a importância da solenidade, onde 26 comunidades foram oficialmente reconhecidas de uma só vez, algo inédito na história de Alagoas, e, principalmente, por esses mesmos grupos poderem, a partir de agora, contar com políticas públicas específicas para melhorar a infraestrutura, saúde e educação do local onde vivem.

“Através desse reconhecimento, a gente espera que as comunidades sejam mais respeitadas e, com o decorrer do tempo, possamos observar uma melhora na qualidade e vida dos quilombolas”, afirmou Manoel.

Ele também reconheceu a importância do trabalho desempenhado pela Gerência do Núcleo de Quilombolas e toda sua equipe. “Berenita e Sandreane Melo tiveram um papel fundamental no autorreconhecimento das comunidades certificadas hoje. Graças ao belo trabalho desempenhado por elas, foi despertado o espírito de união nas comunidades visitadas e tornou-se possível fazer um resgate histórico”, salientou Manoel.

Tércio Cappello
O líder quilombola Manoel Oliveira recebe o certificado que reconhece direitos da comunidade em que vive
Dirigindo-se diretamente aos quilombolas de maneira franca, o diretor-presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Geraldo de Majella, afirmou que os quilombolas são os mais excluídos entre os excluídos do Brasil, mas com o reconhecimento do Estado, as 26 comunidades terão acesso a políticas públicas específicas e serão contempladas com ações capazes de mudar uma realidade cruel imposta há séculos.

“Iremos trabalhar de maneira integrada, governo federal, estadual e municipal. Inclusive, a Secretaria de Estado da Educação já avançou nesse trabalho. Atualmente existem 52 turmas do Programa Brasil Alfabetizado que atendem 31 comunidades quilombolas de 18 municípios e a proposta é dobrar esse número no próximo ano”, disse Majella.

O secretário também falou de benefícios de outros órgãos voltados às comunidades remanescentes de quilombos. “Na área de saúde, foi concluído no fim de outubro o mapeamento genético da comunidade Filus e agora eles iniciaram um acompanhamento médico para prevenir e monitorar possíveis doenças provocadas em decorrência do albinismo. Esse trabalho está sendo feito pelo Hospital Universitário sob acompanhamento dos doutores Fernando Gomes, Cláudio Cavalcante e Isabella Monlle, com um importante apoio da ouvidora Márcia Rabello”, explicou Majella.

História de resistência — Essa integração relatada por Majella também foi ressaltada pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo. Além de destacar o trabalho desenvolvido pelo Iteral, ele também discursou sobre o quilombo, representação simbólica e física do principal combate da história brasileira. “Em Alagoas, tivemos o maior exemplo de resistência e, ao mesmo tempo, o maior massacre liderado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho”, disse Zulu.

Ele aproveitou a oportunidade e comunicou aos presentes que eles agora poderão ser beneficiados pelo Programa Etnodesenvolvimento, que visa capacitar liderança e promoção de desenvolvimento, emprego e renda através das várias manifestações culturais dessas comunidades.

Representando o governador Teotonio Vilela, o secretário da Cultura, Osvaldo Viégas, transmitiu uma mensagem do governador: “O Governo agradece e parabeniza o trabalho do Iteral, bem como toda sua equipe, assim como a Fundação Cultural Palmares. O governador também tem a certeza de que Alagoas será o primeiro estado a produzir o mapeamento étnico-cultural de todas as suas comunidades quilombolas”, transmitiu Viégas.

Também participaram da solenidade de entrega dos certificados de reconhecimento a secretária da Ciência e Tecnologia, Kátia Born, o prefeito de Piaçabuçu, Dalmo Júnior, e o deputado estadual Álvaro Guimarães.






19 de novembro de 2009 |
Quilombolas têm direitos assegurados
Comunidades alagoanas recebem da Fundação Palmares certificados que garantem prioridade na aplicação de políticas públicas
| CARLA SERQUEIRA - Repórter
Ao ouvir os relatos dos quilombolas alagoanos, é de se acreditar que a esperança nunca morre de verdade. Ontem a tarde, 26 comunidades de 18 municípios de Alagoas foram certificadas pela Fundação Palmares como remanescentes dos quilombos. O certificado dá direito aos moradores terem prioridade na aplicação de políticas públicas. Para muitos, é “a luz no fim do túnel”, em recantos onde a escravidão propriamente dita mudou só de nome.
Manuel Oliveira é Bié para os seus conhecidos. Líder comunitário há 22 anos em Traipu, ontem no Palácio República dos Palmares ele representou, na mesa das autoridades, os quilombolas presentes. “A escravidão ainda continua, só que de outro jeito. Quem precisa de socorro em Traipu, só tem se pagar o frete de R$ 100 até o hospital de Arapiraca. Já morreram gestante e criança por isso. Se tiver que vir para Maceió é R$ 250. Como o povo vai pagar, se o dia de trabalho nas fazendas é R$ 10?”, questionou o líder, que ontem falou em nome dos sítios Belo Horizonte e Uruçu, do povoado Mumbaça.






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